sábado, janeiro 16, 2016

Mundo, menino, mundo

O menino e o mundo, de Alê Abreu

Lembro que o meu olhar ficou aguçado quando vi o trailer de O menino e o mundo, facilmente fui conquistada a ir vê-lo no cinema. Ansiosamente aguardei entrar em cartaz e fui assistir no Arte Pajuçara numa tarde, onde no máximo haviam cinco pessoas na sala contando comigo.

Meus olhos não conseguiam processar tanta beleza ou acreditar nos detalhes, cores, leveza e encantamento que o filme me despertava. Mesmo assim fui vencida pelo cansaço e perdi uma parte do filme.

Recentemente (outubro 2015) exibimos no SESC Alagoas durante a semana da criança O menino e o mundo para um grupo de crianças pela manhã e pela tarde. Além de ter sido maravilhoso reassistir na duas sessões atentamente e descobrindo em cada uma ainda mais detalhes do filme, foi prazerosíssimo desfrutar da reação do público.

Hoje parei para ver o making of que vem no dvd, e assim tive pistas do processo de construção, saber que o menino atende por cuca, que foi criado pelo Alê Abreu com tanto carinho e liberdade, possibilitando a maturação desse mundo que não apenas é revelado pelos olhos do menino, mas como inunda e ilumina os olhos de quem aceita o convite de mergulhar nele.

Compreender as diferentes texturas e técnicas utilizadas, rememorar os sons, as cenas, a trilha, transpirar um pouco da inspiração e sinergia que compôs esse filme nenhum pouco minimalista ou singelo.

Confira o trailer:

domingo, janeiro 10, 2016

Memórias de Marnie e minhas

Anna queria ser Marnie e Marnie queria ser Anna. Eu queria ser Anna, e fui, ao menos durante a sessão de As memórias de Marnie, de Hiromasa Yonebayashi.

Anna queria pertencer ao mundo normal, mas não sabia lidar com a tensão que esse pertencer a provocava. Sentia que não tinha família por ter sido adotada. Não dava valor ao que tinha por não ter maturidade para processar o que havia perdido (morte dos pais e avó).

A jornada de Anna em As memórias de Marnie parece uma busca pelo desconhecido e pela ilusão. Mas é o aflorar de suas angústias e pertencimentos.

Fiquei profundamente encantada com o amadurecimento da personagem e reafirmação de sua história de vida. Ao me render as lágrimas dialoguei com a perda e o amadurecimento de Anna e o meu.

Queria ser Anna para poder de alguma maneira lembrar e reencontrar a minha avó materna.

Senti que levei uma rasteira do filme enquanto soluçava e me debulhava em lágrimas, me fez reviver a minha maior perda, aquela que me faz falta há 28 anos e nunca chegou perto de ser substituída.

domingo, janeiro 03, 2016

Mas você só fotografa reflexo?

Quem alimenta uma paixão sabe que pode não ser tão fácil enxergar e se apaixonar aquém do objeto desta paixão.

O meu relacionamento com o reflexo é assumido, e em muitos momentos penso que quero alimentá-lo pro resto da vida.

Por vários momentos ao longo desses quatro anos o meu olhar se fixou por um tempo em determinadas superfícies reflexivas (poças, bolas de natal, caleidoscópios, entre outros), e sim tive dificuldade de enxergar além, até que enxerguei e me encantei com o que encontrei refletido pouco depois.

O gratificante foi me permitir enxergar a cada reencontro com o reflexo uma oportunidade de conhecer ou reconhecer o que estava registrando. Gratidão que mal consigo dimensionar por tudo que vivi e tenho amadurecido.

A fotografia é parte essencial desse relacionamento, mas dentro do meu aprendizado e relacionamento com a fotografia ainda consigo não só fotografar reflexo. No entanto, só fotografar reflexo é o que mais me deixa sem fôlego, estimulada a continuar fotografando, e o que mais tenho prazer em compartilhar.